Aos alunos do 3º ano E
A postagem abaixo é pertinente à aula em PowerPoint que vocês assistiram na 2ª feira a respeito do Pré-Modernismo no Brasil.
Exploraremos a obra "Os Sertões," de Euclides da Cunha, que iniciou o movimento. Queiram, por gentileza, imprimir o texto abaixo:
Trecho do romance regionalista
pré-moderno (Euclides da Cunha) –www1.folha.uol.com.br/fol/Brasil500/histcanudos12.htm
A Terra
“Ao sobrevir das chuvas, a terra, como vimos,
transfigura-se em mutações fantásticas, contrastando com a desolação anterior. Os
vales secos fazem-se rios. Insulam-se os cômoros escalvados, repentinamente
verdejantes. A vegetação recama de flores, cobrindo-os, os grotões
escancelados, e disfarça a dureza das barrancas, e arredonda em colinas os
acervos de blocos disjungidos -de sorte que as chapadas grandes, entremeadas de
convales, se ligam em curvas mais suaves aos tabuleiros altos. Cai a
temperatura. Com o desaparecer das soalheiras anula-se a secura anormal dos
ares. Novos tons na paisagem: a transparência do espaço salienta as linhas mais
ligeiras, em todas as variantes da forma e da cor.Dilatam-se os horizontes. O
firmamento, sem o azul carregado dos desertos, alteia-se, mais profundo, ante o
expandir revivescente da terra.E o sertão é um vale fértil. É um pomar
vastíssimo, sem dono.Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias torturantes; a
atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo; a nudez da flora; e nas ocasiões
em que os estios se ligam sem a intermitência das chuvas -o espasmo assombrador
da seca."
O HOMEM
"O sertanejo é,
antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços
neurastênicos do litoral.A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de
vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a
estrutura corretíssima das organizações atléticas.É desgracioso, desengonçado,
torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O
andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação
de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num
manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé,
quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que
encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um
conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela.
Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme.
Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço
geométrico os meandros das trilhassertanejas. (...)
É o homem permanentemente fatigado."
A LUTA
"Concluídas as pesquisas nos arredores, e recolhidas as
armas e munições de guerra, os jagunços reuniram os cadáveres que jaziam
esparsos em vários pontos. Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam
depois, nas duas bordas da estrada, as cabeças, regularmente espaçadas,
fronteando-se, faces volvidas para o caminho. Por cima, nos arbustos marginais
mais altos, dependuraram os restos de fardas, calças e dólmãs multicores, selins,
cinturões, quepes de listras rubras, capotes, mantas, cantis e mochilas...A
caatinga mirrada e nua, apareceu repentinamente desabrochando numa florescência
extravagantemente colorida no vermelho forte das divisas, no azul desmaiado dos
dólmãs e nos brilhos vivos das chapas dos talins e estribos oscilantes...Um
pormenor doloroso completou essa encenação cruel: a uma banda avultava,
empalado, erguido num galho seco, de angico, o corpo do coronel Tamarindo.Era
assombroso... Como um manequim terrivelmente lúgubre, o cadáver desaprumado,
braços e pernas pendidos, oscilando à feição do vento no galho flexível e
vergado, aparecia nos ermos feito uma visão demoníaca."
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